Casa Arte Nova

 

Implantada na malha urbana de Pombal, esta casa Arte Nova foi edificada na década de 30 do século XX, sob projeto do arquiteto suíço Ernesto Korrodi. Este chegou a Portugal em 1889, na sequência da reforma do ensino artístico e industrial então levado a cabo por Emídio Navarro, fixando residência em Leiria a partir de 1894, e desenvolvendo um largo trabalho no campo da arquitetura e do restauro de monumentos (COSTA, 1997). Entre os muitos projetos definidos por Korrodi, ou pelo seu atelier, deverá encontrar-se o imóvel de Pombal, cujas características Arte Nova denunciam a proximidade com outras obras do arquiteto, apesar de não constar do inventário recentemente efetuado por Lucília Verdelho da Costa.
De planta retangular, esta casa de habitação desenvolve-se num volume compacto, cujas fachadas se abrem para a Rua Almirante Reis, no caso da principal, para a Rua Capitão Tavares Dias, a lateral, e para um jardim de dimensão reduzida, a posterior. Todas são revestidas, até ao segundo andar, por azulejos retangulares verdes, e percorridas por um friso de azulejos, junto à cimalha, que no caso do alçado Este dá início à empena. O padrão linear e vegetalista deste friso é idêntico ao que o mesmo arquiteto aplicou na reconstrução de um prédio de rendimento na Praça Rodrigues Lobo, em Leiria.
Na fachada principal, de dois andares, abrem-se quatro portas, a que correspondem, no piso superior, duas janelas de sacada nas extremidades e, ao centro, um conjunto de três janelas salientes e fechadas, formando uma espécie de balcão, de linhas retas e de tendência mais geometrizante, apoiado sobre mísulas. Entre os dois andares, encontra-se um outro friso de azulejos, de motivos vegetalistas.
No alçado Este, de três pisos, abrem-se duas portas e uma janela no andar térreo, que se ligam a outras tantas janelas de sacada com avental de azulejos. Ao centro, a composição prolonga-se na janela semicircular do sótão, tripartida e emoldurada por uma composição de linhas curvas em cantaria, que definem o frontão semicircular, cujo tímpano é revestido por azulejos. Este jogo de linhas é bastante comum na obra do arquiteto suíço, tal como os ritmos tripartidos dos vãos, os fechos salientes, o recurso às mísulas, os motivos geométricos e florais (COSTA, 1997, pp. 276-296).
No contexto da arquitetura portuguesa do início do século, Korrodi teve um entendimento mais estrutural da Arte Nova, destacando-se também pela adequação do ornamento à estrutura arquitetónica, como se pode observar neste imóvel. Aqui encontramos algumas das constantes do arquiteto suíço (nos projetos habitacionais), perfeitamente articuladas com elementos decorativos de gosto Arte Nova, e tirando partido da utilização das grades de ferro (umas vezes de tendência retilínea e outras mais orgânica) e dos azulejos vegetalistas de padrão diversificado. Por outro lado, a modelação das cantarias das molduras dos vãos denota “o prazer de decorar e, sobretudo, o prazer de trabalhar a matéria” (COSTA, 1997, p. 288).
Em última análise, e no contexto urbano de Pombal, este imóvel impõe-se nas artérias em que se insere, destacando-se pelas fachadas de grande cenografia.
(Rosário Carvalho)